domingo, 29 de março de 2009

Crime ambiental – Onça pintada é morta por atropelamento em estrada dentro do Parque Nacional do Iguaçu


Símbolo do Parque Nacional do Iguaçu, uma onça pintada foi atropelada neste sábado na BR 469, via de acesso às Cataratas do Iguaçu, no interior do parque, a 637 Km de Curitiba. A onça foi encontrada morta na beira da estrada na manhã deste sábado, 28, por funcionários da Concessionária Cataratas do Iguaçu, no quilômetro 27 da rodovia, Que avisaram os técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão gestor da unidade.

O animal era um macho, jovem, de aproximadamente 70 Kg e quase 2 m de comprimento, incluindo a cauda. De acordo com a Polícia Florestal, o atropelamento foi durante a madrugada, provavelmente por um veículo em alta velocidade. O motorista, depois de arrastar o animal para fora da estrada, fugiu sem avisar aos guardas parque do acidente. O acidente foi depois que o parque já havia fechado. Neste período da madrugada, apenas funcionários e vans e táxis de turismo, que vão para o Hotel das Cataratas têm permissão do ICMbio para trafegar dentro da unidade. A polícia está vistoriando todos os veículos que entraram no parque nessa madrugada.

A morte do animal reacendeu a polêmica sobre o plano de manejo aprovado em 2002, que já determinava, justamente para evitar acidentes como este que os únicos veículos a cruzarem os portões e circularem pelas vias internas da unidade deveriam ser os ônibus do próprio Parque Nacional. Mas esta regra nunca foi posta em prática, pois o setor de turismo do município sempre foi contra esta restrição. Porém, logo após o ocorrido, foi proibida por tempo indeterminado a entrada de veículos de turismo, táxis e vans no interior da unidade pelo portão de serviços, até que se encontre o responsável pelo atropelamento do animal. A entrada de turistas está concentrada pelo Centro de Visitantes, que só podem acessar o parque utilizando-se dos ônibus da unidade.

A onça pintada é uma espécie rara e ameaçada de extinção. O parque nacional é uma das únicas reservas naturais do sul do Brasil e, provavelmente, o único refúgio no Paraná, onde as onças podem ser encontradas em liberdade, mesmo assim, os biólogos estimam que apenas entre oito e dez onças vivam na unidade atualmente. Por isso, a perda é considerada grave. E o pior de tudo: a onça atropelada pode ser um dos últimos machos, e a perda de um macho, significa a perda de um percentual considerável de material genético reprodutivo dentro do parque. Segundo os técnicos, a perda é incalculável e para todo trabalho de pesquisa e conservação feito até hoje para se manter um banco genético viável, encontrar um animal morto é bastante chocante. O Parque Nacional do Iguaçu desempenha um importante papel nesse trabalho de pesquisa, pois serve como matriz, isto é, a onça (Panthera onça) nasce nessa região e migra para outros locais, aproveitando o corredor verde que existe tanto no parque brasileiro como no argentino. Um estudo feito pelo parque argentino detectou a presença de apenas 50 onças espalhadas pelos dois parques. A causa desse número baixo deve-se principalmente à ação de caçadores, que durante as décadas de 80 e 90 dizimaram a população de onças-pintadas.

O animal foi levado pelos os técnicos do instituto até a base de pesquisa do Poço-Preto, onde foram retiradas amostras de pêlos e peles para análise laboratorial, fotografada e feita a telemetria para observar o tamanho e peso.

De acordo com a Polícia Florestal e com a administração do parque, a pessoa que atropelou o animal terá de responder por crime ambiental e pode pegar, no fim do processo, até dois anos de prisão. Também pode receber uma multa de no mínimo R$ 5 mil.