segunda-feira, 16 de março de 2009

Biodiversidade - Biólogo de MG descobre abelha nativa “atleticana”


Uma rara espécie de abelha nativa da Mata Atlântica foi descoberta pelo biólogo e fanático torcedor do Atlético-MG, André Nemésio de Barros Pereira, pós-doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em abelhas da subtribo Euglossina. O inseto é negro, com o abdome listrado em amarelo claro e foi batizado com o nome científico de Eulaema atleticana. Apesar de ter sido descoberto na Bahia, ganhou o nome mineiro em homenagem ao clube Atlético Mineiro, um dos mais consagrados times de futebol do Brasil, que completou seu centenário em 2008, conhecido por ter a mais fanática torcida no país, que ultrapassa seis milhões de pessoas. O campeão brasileiro de 1971 é o primeiro clube na história da ciência a ter um ser vivo descrito em sua homenagem.

- A ideia da homenagem era antiga. Só que todas as abelhas novas que surgiam não tinham a coloração adequada. Quando surgiu esta, preta com finas listras amareladas, pensei: É agora ou nunca. Procurei o então presidente
Ziza Valadares (renunciou ao cargo no ano passado), que não deu muita bola. Ainda brinquei com ele que o nome da abelha vai durar por toda a eternidade. Não deu outra. Daqui a mil anos, mesmo que não exista mais futebol, sempre que alguém se deparar com o nome dessa abelha na literatura especializada e quiser saber a origem do nome, vai encontrar a história do Galo - afirma Nemésio.

Para Nemésio, os torcedores são como “embaixadores” do Alvinegro e devem divulgar o nome do clube. Se fosse astronauta, levaria a bandeira do Galo para o espaço, para a Lua. Como é biólogo, garante que fez sua parte batizando uma espécie em homenagem ao clube, o que contribui muito para o momento de crescimento da consciência das pessoas pela conservação da natureza.

Brincadeiras à parte, o trabalho de Nemésio é sério e minucioso. O inseto atleticano é uma das sete espécies de abelhas da Mata Atlântica que ele descreve no trabalho. As sete espécies foram descobertas dentro de um processo amplo de revisão da nomenclatura de todas as espécies de abelhas euglossinas da Mata Atlântica, todas muito difíceis de se identificar, o que acabou criando uma bagunça generalizada sobre nomes e áreas de ocorrência.

As abelhas euglossinas são bem diferentes das abelhas melíferas (produtoras de mel). Não formam colmeias, são solitárias, e muitas têm cores metálicas ou pêlos grossos. São polinizadoras de orquídeas, e tipicamente só ocorrem em áreas de floresta bem preservada. Muitas orquídeas dependem exclusivamente dessas abelhas para se reproduzir. Só os machos atuam como polinizadores, usando o aroma das flores para atrair as fêmeas.

A maior parte do trabalho foi desenvolvido em laboratório, com base na literatura científica e na análise de espécimes "tipos" (referências), guardados em dezenas de museus nacionais e internacionais. Pesquisou todos os tipos, todos os nomes citados na literatura e comparou um a um. Após consultar 102 tipos, chegou a uma lista de 54 espécies de abelhas euglossinas da Mata Atlântica, incluindo as 7 novas e 3 que o biólogo recomenda sejam incluídas na lista de ameaçadas.

A descoberta deverá ser publicada na próxima edição (terça-feira, 17) da revista especializada Zootaxa, da Nova Zelândia, quando então o nome passa a valer de acordo com as regras internacionais. Na descrição oficial da abelha, o autor explica aos cientistas de todo o mundo a origem do batismo, as características do animal, seu habitat e ecologia.