quarta-feira, 25 de junho de 2008

Meio ambiente - A bóia-fria do etanol brasileiro


Recentemente, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu que parte da resistência ao uso do etanol vem da oposição dos interesses ligados ao petróleo. Na última segunda-feira (23), o secretário-executivo da Convenção da ONU para Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, ressaltou que o etanol brasileiro não gera desmatamento e é sustentável, mas criticou os biocombustíveis de outras fontes. Para ele, apenas o etanol que seja produzido de forma sustentável fará parte de uma solução final para garantir a redução de emissões de gás carbônico no mundo. Admitiu ainda que o assunto não é bem recebido pelos produtores de petróleo.

O presidente Lula, como bom mercador é claro, não cansa de defender o etanol brasileiro e dizer que os "dedos apontados contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e de carvão". Os ufanistas, sempre muito animados com o etanol brasileiro, só se esquecem de assumir o maior problema que afeta o setor: a desumana exploração da mão-de-obra. A imensidão de lavouras de cana foi formada e é colhida anualmente, graças às mãos de milhares de trabalhadores rurais temporários explorados, em pleno século XXI, de forma bárbara. São os conhecidos “bóias-frias”, nome dado pela parca refeição diária, que na hora do almoço já se encontra fria. A escravidão é nítida ainda hoje e o setor é um dos que mais contribuem para a procrastinação desse terrível mal.

Esses trabalhadores sofrem com as péssimas condições de trabalho, falta de assistência e proteção, alimentação inadequada, transporte desumano, excesso de horas trabalhadas, remuneração indigna, falta de capacitação profissional, dentre outras mazelas. Muitos produtores e usinas melhoraram o sistema de colheita nesses últimos anos, porém, com isso, não deixaram de afetar a vida dessa gente, que foi dispensada pela mecanização das lavouras e hoje continua vivendo em condições degradáveis, sem capacitação, educação e condições básicas necessárias para conseguir um novo emprego e melhorar a condição de vida.

O etanol brasileiro, sem dúvida tem suas vantagens, mas também desvantagens da forma como tem sido produzido nos dias de hoje. Como vantagem incontestável, temos a característica de ser um produto derivado de uma cultura renovável. A isso agrega-se uma outra vantagem imbatível, que é a enorme extensão de terras agricultáveis que o país possui, e que o deixa confortável por não interferir na produção de alimentos (muito contestada de forma infundavel pelos concorrentes). Isso vem fortalecendo a independência do país em relação aos combustíveis fósseis, outro grande triunfo. Porém, a influência da monocultura, do inadequado uso do solo, das queimadas na época de colheitas e, principalmente, a vergonhosa forma escravagista de exploração da mão-de-obra que insiste em assolar o setor, são questões que continuam sendo deixadas de lado pelos entusiastas do etanol. A escravidão é, sem dúvida, a pior das mazelas que poderia se permitir no sistema de produção desse biocombustível. É inadmissível que isso ainda ocorra nos dias de hoje. A persistir essa situação, insistir na produção de etanol no Brasil é uma verdadeira fria. Ao contrário do que afirmou o secretário-executivo da ONU, podemos afirmar que, nos moldes atuais, o etanol do Brasil é insustentável.

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